sábado, 17 de novembro de 2018

Didi Caillet, a “Vênus Curitibana”

Escultura "Vênus Curitibana" na Praça Didi Caillet
Escultura "Vênus Curitibana" na Praça Didi Caillet
Escultura "Vênus Curitibana" na Praça Didi Caillet
Escultura "Vênus Curitibana" na Praça Didi Caillet
Foto de Didi Caillet na revista Illustração Paranaense de janeiro de 1928
Foto de Didi Caillet na revista Illustração Paranaense de janeiro de 1928


“Vênus Curitibana”, escultura de Maria Inés Di Bella localizada na Praça Didi Caillet.
Maria Inés também é autora de “A máscara de Lala Schneider” já publicada aqui no blog.

A escultura é uma homenagem a Didi Caillet, musa curitibana no final da década de 1920 e início da de 1930.

Didi Caillet


Didi Caillet na Illustração Paranaense edição de março de 1928
Didi Caillet na Illustração Paranaense
edição de março de 1928
Marie Delphine Caillet nasceu em Curitiba em  1º de junho de 1907, filha do industrial Mauricio Caillet e Nerina Caillet. Faleceu também em Curitiba em 6 de janeiro de 1983.

Nascida em família rica, bem educada, falava francês e italiano, bonita, com talentos para a declamação de poesia, canto e também dons literários. Tinha um comportamento considerado avançado para um moça da época, com desenvoltura e opiniões próprias em diversos assunto, inclusive na política. Isso em um tempo em que as moças apenas preparavam-se para o casamento e criação de uma família.
Acabou virando uma espécie de musa dos paranista. Já em 1927 o jornal “O Dia” de 15 de dezembro publicava a manchete “Didi Caillet, a musa do Paraná, vai se fazer ouvir, ainda este anno”,  noticiando um festival de declamação “em beneficio dos orphansinhos do Asylo S. Luiz”.
Na segunda metade dos anos 1920 são várias as notícias nos jornais sobre eventos de declamação de poesia em que ela participava e promovia.

No dia 16 de março de 1929 foi eleita Miss Curityba, em um concurso do jornal “A República”. Antes houve uma espécie de eleição popular, onde as participantes eram divididas por região da cidade (zona norte, zona centro e zona sul) e as mais votadas participaram da etapa final, onde a vencedora foi escolhida por um júri formado por Izabel Gomm, Pamphilo d’Assumpção, Alfredo Andersen, João Turim e Romario Martins.

No dia 20 de março, foi eleita Miss Paraná. O júri era o mesmo do Miss Curitiba, o local era o mesmo (o Clube Curitybano). As participantes desse primeiro concurso de Miss Paraná foram as concorrentes de Curityba, Paranaguá, Rio Negro, Lapa, Palmas e Campo Largo.

Na página 4 do mesmo jornal, continuando a falar do concurso, notei o seguinte: “Por solicitação da “A REPÚBLICA” o culto artista patrico J. Turim, apreciado esculptor, vae fazer o baixo relevo de Didi Caillet, hontem eleita “Miss Paraná”.” Onde será que anda esta escultura?

Depois disso e de participar de inúmeros eventos em Curitiba, Didi seguiu para o Rio de Janeiro, então capital do país, para participar do Miss Brasil.

No Rio de Janeiro Didi Caillet tornou-se rapidamente uma personagem popular. Em votações paralelas promovidas por diversos jornais concorrentes do “A Noite”, o promotor oficial do concurso, ela era a vencedora. Bonita, simpática e também desenvolta, participou de diversos eventos beneficentes, de declamação de poesias e outros.

No dia do concurso, 18 de abril de 1929, para espanto geral do público, o júri oficial anúncio como vencedora Olga Bergamini de Sá, Miss Rio de Janeiro. Rapidamente, Didi apanhou a faixa de vencedora e colocou na vencedora. Conquistando com esse gesto ainda mais a simpatia do público.

Depois do concurso permaneceu mais um tempo no Rio de Janeiro, participando de eventos. Sendo sempre genuinamente aclamada pela população, que a considerava a verdadeira Miss Brasil.

Em Curitiba a partir de então ela tomou conta dos jornais da época, que acompanhava e noticiavam tudo que ela fazia, através de despachos telegráficos.

Diria que houve até um certo ufanismo. Mas é compreensível. De certa forma Didi catalisou com as suas qualidades um sentimento que era crescente em um estado que na época lutava para ser reconhecido nacionalmente, que procurava uma identidade própria. Vide o Movimento Paranista, da qual ela já era a musa.

Depois de sair do Rio de Janeiro, Didi Caillet parou em Santos e depois subiu a serra de trem para São Paulo. Sendo sempre paparicada e chamando sempre a atenção e sendo aclamada por onde passava. Retornou para Santos e tomou novamente o navio, desta vez rumo à Paranaguá, onde ficou alguns dias, sempre participando de eventos e causando alvoroço popular.

Chegou em Curitiba no dia 16 de junho de 1929, de trem, acompanhada de um comitiva que tinha descido a serra para recepcioná-la. Depois de discursos de despedida e de grande acompanhamento popular na estação de Paranaguá, a etapa final rumo à Curitiba iniciou. No caminho o trem parou em Morretes (tinha povo de Antonina lá também) e Piraquara, sempre com grande afluência popular e os discursos e bandas de música. Em Curitiba, desde o Cajuru, as laterais dos trilhos estavam ocupadas pela população. Na estação de Curitiba “logo após o seu desembarque na “gare”, onde foi muitissimo abraçada e cumprimentada, a gentilissima sta. Didi Caillet, “Miss Paraná” assomou á escadaria da estação na Rua Rio Branco, a qual se encontrava feericamente illuminada por fogos de artifício, reflectores electricos, etc. Ressou, em seguida, uma retumbante salva de palmas da multidão compacta que enchia a rua, acclamando desse modo a encantadora rainha da belleza e da intelligencia de nossa terra.”

Apenas para termos uma noção da euforia que dominou os jornais da cidade, alguns trechos do que o “A República” publicou na edição do dia 17. Notícia, que dominou toda a primeira página do jornal, com continuação em outras páginas.

“Didi Caillet acclamada
em Paranaguá,
Morrete, Piraquara e
Curityba. Nesta Capital
é recebida por uma
multidão calcula em
mais de 30.000 pessôas”

A recepção foi considerada apoteótica, maior que as de Santos Dumont, Ruy Barbosa e a do Barão do Rio Branco. Por tempo serviu de medida para comparar se a recepção de fulado tinha sido maior ou menor que a de Didi. Sim, naquela época as pessoas saiam as ruas para receber as pessoas que consideravam seus heróis.

Na mesma edição do jornal tem esse texto:

“ O triumpho singular de DIDI CAILLET no encontro
de bellesa que vem de terminar na Capital da República,
faz lembrar a competição dos caynás do Alto Paraná, por
que não se resumio em ser ella “a mais bella” mas tambem
“a mais agil” de intelligencia, de graça, de natural attrac-
ção, – a que soube e melhor pôde tecêr os fios subtis do en-
cantamento nas almas e nos corações dos brasileiros.
Romario Martins”.

No dia 16 de junho de 1929 o jornal “O Dia” publicou na primeira página, com grande destaque, ao lado no título do jornal, o seguinte:

“Não é apenas Didi Caillet quem hoje retorna á casa,
mas o symbolo glorioso de nossa terra, a alma do Paraná,
a mocidade radiosa da linda terra dos pinheraes, que lá
por longe andou, por alheias terra, para gloria e grandeza
do que aqui ficaram.
E pela sua chegada, que suasaudaçãodção magica ella ha de
ouvir, dentro da alegria de quem volta: – o violino do
pinheiral cantando, ao vento, o hymno da terra, onde nas-
ceu e que tanto a quer…”

Depois da ferroviária foi desfile em cortejo de carros, bandas, paradas para discursos, uma festa enorme.
As lojas enfeitaram suas vitrines especialmente para o ocasião.

E assim Didi Caillet continuou notícia nos anos seguintes, com seus eventos, visitas e declamações. Foi uma grande promotora do Paraná e dos seus produtos.

Até que em 8 de junho de 1933 casou com seu antigo namorado, com quem havia brigado antes dos concursos de miss, Luiz Abreu de Leão.
Recolheu-se para a vida domestica e para os quatro filhos.
A partir desse evento não foi mais notícia constante, mas nunca foi esquecida.
Em 14 de dezembro de 1948 seu marido faleceu.
Em 1953 casou novamente, dessa feita com José Gonçalves de Sá e mudou para o Rio de Janeiro, onde viveu por 22 anos, até ficar novamente viúva.
Retornou para Curitiba, onde passou os últimos anos de sua vida.

Didi Caillet e seu carro
Didi Caillet e seu carro
Didi Caillet, declamou poesias, cantou em coral, escreveu crônicas e livros (três). Foi uma pessoa considerada avançada para o seu tempo, a primeira motorista mulher da cidade, a primeira mulher a gravar um disco de poesias no Brasil, musa e inspiração. Casou, criou filhos, sofreu a dor de duas viuvez, viveu. Foi modelo para muitas outras mulheres.

Sempre falam da beleza e da inteligência dela. Lendo muitos artigos de jornais e revistas da época, além disso tudo, chamou minha atenção uma coisa que pareceu-me um traço da personalidade dela, a qualidade de uma pessoa caridosa. Ela tinha tudo e poderia ter apenas circulado no circuito mundano da sociedade da época, mas não. As notícias publicadas nos jornais dão conta de que os seus recitais e eventos era quase todos relacionados com o levantamento de fundos para os mais necessitados em asilos, orfanatos e hospitais. Não só levantava recursos, mas ela mesma visitava hospitais, asilos, orfanatos e presídios, chamando atenção para a causa dessas pessoas. Aqui em Curitiba e nas outras cidades que visitava. A primeira notícia que encontrei dela foi no “A República” de 26 de dezembro de 1921, que publica um relação de estabelecimentos comerciais e pessoas que fizeram donativos para o Natal dos pobres promovido pelo jornal. Didi, então com quatorze anos, está na lista. Ela doou um jogo de pelota e uma mobilia para boneca.

Publicação relacionada:
Praça Didi Caillet